banner
Centro de notícias
Estamos comprometidos em manter nossos padrões de certificação ISO.

Como o Google Earth Engine revolucionou a forma como monitoramos o desmatamento

May 11, 2023

Por Jéssica Maes, repórter de meio ambiente da Folha de S.Paulo que integra o programa Emerging Media Leaders do International Center For Journalism.

A escala da natureza pode ser muito difícil de compreender. A maior floresta tropical do planeta, por exemplo, a Amazônia se estende por quase 2,6 milhões de quilômetros quadrados, cruzando as fronteiras de nove países. Isso é mais que o dobro do tamanho da Índia e equivalente a 68% da área total dos Estados Unidos.

Tentar proteger algo tão grande é um desafio de tamanho e complexidade semelhantes, mas que foi facilitado pelo Google Earth Engine, um serviço de processamento geoespacial direcionado a pesquisadores e outros especialistas em políticas públicas. Lançado em 2010, mudou completamente a forma como os cientistas podem rastrear a perda florestal em todo o mundo, tornando o processo muito mais rápido e amplo – e tudo começou com a curiosidade de uma pessoa.

Em 2005, a engenheira do Google, Rebecca Moore, soube de um novo projeto de extração de madeira perto de sua casa nas montanhas de Santa Cruz, no norte da Califórnia. Embora o plano do projeto tenha sido compartilhado com sua comunidade pelos desenvolvedores, era pouco informativo ou transparente.

"Era um documento de 400 páginas com um mapa rascunho em preto e branco que ninguém conseguia entender. Ninguém sabia nem dizer onde seria, muito menos os detalhes do que estava sendo proposto", diz ela.

Ela se autodenomina uma nerd de mapas e decidiu usar o Google Earth, a ferramenta de visualização global lançada alguns anos antes, para examinar a área-alvo de 1.000 acres. As imagens de satélite de alta resolução mostraram o que as 400 páginas não mostraram: o projeto impactaria a vida cotidiana não apenas das 2.000 pessoas da comunidade, mas também dos residentes da comunidade mais ampla do Vale do Silício que obtinham água potável daquela região.

A área era composta de sequóias costeiras, uma espécie de sequóia ameaçada de extinção que inclui algumas das árvores vivas mais altas e os organismos com vida mais longa da Terra.

"Acontece que os helicópteros estavam pousando e decolando e transportando as toras sobre a creche e a creche", lembra ela. "Ia chegar a 100 metros de três escolas."

Com um vídeo sobrevôo de menos de dois minutos, ela conseguiu mobilizar a comunidade e, por fim, interromper o projeto madeireiro. "Ver a escala de destruição, ver onde o desmatamento está acontecendo, dá a você uma visão sobre o que está causando isso, quais áreas estão mais ameaçadas e precisam de mais proteção", diz Moore, que agora é diretor do Google Earth, Earth Engine e Outreach.

Embora fosse uma área relativamente pequena e abordada apenas em um momento específico, poder ajudar a interromper o projeto de extração de madeira usando o Google Earth despertou em Moore a ideia de que algum monitoramento semelhante poderia ser feito nas florestas do mundo. Mas, para funcionar, os pesquisadores precisariam ter acesso a um enorme banco de dados e a ferramentas para processar todos esses dados — essa foi a semente do Google Earth Engine.

Até então, mapas e imagens de satélite estariam armazenados em diferentes instituições, como a Nasa e outros órgãos governamentais, e os cientistas tinham que coletar essas informações e baixá-las em seus computadores, para só então iniciar a análise. Foi oportuno, levando semanas para coletar tudo, e caro, devido à potência de hardware necessária.

"O Google Earth Engine muda esse paradigma", explica Gilberto Câmara, cientista da computação e ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). "Em vez de os dados irem para onde está o software, que é o seu computador, o software vai para onde estão os dados, que é o Google."

A gigante da tecnologia reuniu imagens de satélite de livre acesso de instituições de pesquisa em todo o mundo, dos Estados Unidos à Europa e Brasil, carregou-as em seu serviço de nuvem e disponibilizou-as para acadêmicos, juntamente com funções de programação para processar os dados. "Isso obviamente se beneficia muito da capacidade do Google de ser um grande armazém de dados", diz Câmara.